terça-feira, 23 de setembro de 2014

Memória proletária: "A eterna comédia"



Disponibilizamos agora mais uma matéria publicada no jornal da Confederação Operária Brasileira, a COB, primeira central sindical do país e ligada à Associação Internacional dos trabalhadores. O Texto trata de um assunto pertinente e que se mantém atual até o presente: Eleições. Os trabalhadores apontam as contradições deste sistema e as consequências práticas que o voto implica ao povo. O texto para esta publicação sofreu alterações na escrita, obedecendo as novas regras ortográficas da língua portuguesa, objetivando facilitar a leitura; apesar disso, o texto original será disponibilizado para download no fim do post. 

NÃO VOTE, LUTE!

A ETERNA COMÉDIA

Assistimos há dias ao desenrolar da mais repugnante e grosseira comédia representada pelos políticos profissionais do Brasil.

E no meio de toda essa bandalheira só ressalta uma coisa, bem lamentável, por certo: Dum lado, a desonestidade, a falta de caráter e de ideais que caracterizam todos os políticos, e daí a covardia dominando tudo, impedindo que as opiniões sejam manifestadas, a ambição abafando a sinceridade, o triunfo mais completo, enfim, da banalidade, da fraude, do canalhismo e da mais odiosa caudilhagem. 

Do outro, um povo indiferente, apático, esmagado pelo formidável peso dos preconceitos religiosos e pela falta de educação, extenuado por um trabalho rude e prolongado e pela falta de alimentação e 
habitações higiênicas, servindo de joguete dos mais torpes ambiciosos, deixando fazer, assistindo impassível, como se nada tivesse com isso, à distribuição que, no meio de nauseantes disputas e de lutas odiosas, fazem salteadores que dominam a situação de tudo quanto ele produz á custa duma vida miserável e indigna.

E assiste a tudo isso como se tratasse dum espetáculo divertido, como se não estivessem em jogo os seus interesses e a sua dignidade...

*

A quem culpar por este estado de coisas? Por muitas voltas que demos ao assunto sempre chegamos à mesma conclusão. O mal está na organização da atual sociedade, como todos os sociólogos sinceros vem mostrando-nos há tempo.

O açambarcamento da propriedade por uma minoria e as consequências que a sua manutenção acarretam, levaram-nos a essa situação. Só uma transformação na sociedade poderá resolver o problema.

Todas as reformas propostas pelos políticos fracassarão fatalmente. O povo não poderá levantar-se enquanto não sacudir o jugo dos monstros que o esmagam: Estado, Militarismo, Religião, Capitalismo. Propor paliativos sem fechar para sempre essas bocas imensas que tudo devoram, será obra inútil e perniciosa.

Pensam nisso os políticos profissionais e os reformadores burgueses? Não.

Então o dever das pessoas sinceras e de boa fé é abandona-los, negar-lhes em absoluto o seu apoio e iniciar uma intensa obra de educação popular capaz de criar não ambiciosos e arrivistas, mas homens dispostos a investigar o mal e ataca-lo nas suas raízes. Uma obra capaz de levantar o espirito decaído da parte sã do proletariado, mas que o afaste do charco parlamentar.

Não nos cansaremos de repetir ao proletariado militante: que se interesse pela situação politica, que tome parte na luta, mas em beneficio próprio; que aproveite a ocasião para orientar o povo, preparando assim o epilogo da farsa, que fatalmente terminará em tragédia...

MANUEL MOSCOSO.


Fonte: MOSCOSO, Manuel. A eterna comédia. A Voz do Trabalhador, Ano I, n° 12. 1° de Junho de 1909, p. 01.

Download do texto original > aqui <

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