terça-feira, 16 de setembro de 2014

"A Politica"


 


A descrença com as eleições não é recente. Em Parnaíba, por exemplo, é possível perceber que esta realidade era vivenciada durante a República Velha. Em um jornal operário chamado "O Artista", os trabalhadores da cidade litorânea piauiense desdenham deste mecanismo de controle social através do artigo "A Politica", lançado na primeira edição deste, datado de 15 de Agosto de 1919: 

Eis aqui um interessante questionário:
- Que é a politica?
- É a sciencia que ensina a viver do orçamento.
- Que é orçamento?
- É a panella nacional onde todos desejam metter a colher.
- Como se divide a politica?
- divide-se em partidos.
- Pode dizer-me quantos partidos há?
- Dois, o dos que estão em cima e o dos que estão em baixo.
- Costumam inverter-se estas funcções politicas?
- Sim, senhor, por meio de uma revolução.
- E então, o que succede?
- Succede que aquelles que esmagaram, gritam, e os que gritaram, esmagam.
- Obtem-se, por meio dessa inversão, algum beneficio politico?
- Não, senhor, porque a ordem dos factores não altera o producto.


É válido ressaltar que a mesma matéria foi publicada novamente em 24 de Junho de 1933, desta vez no jornal anarquista "A Plebe", fundado por Edgard Leuenroth em São Paulo, e disponível no livro ABC do Sindicalismo Revolucionário, de Edgar Rodrigues (p.71).

Hoje em 2014, apesar das diversas modificações sociais que sofremos ao longo de décadas, a descrença com a política institucionalizada só aumenta. Em Junho do ano passado, esta descrença foi às ruas, ergueu barricadas, e percebeu que a modificação da realidade não se dá elegendo candidatos. Os sonhos e as reivindicações não cabem nas urnas. É preciso buscar outras formas de ação política, fora dos tramites da velha burocracia partidária de disputa do Estado. 

Os políticos, governantes e empresários, a todo tempo querem que acreditemos que "nossa maior arma é o voto", o que não passa de uma grande mentira, e que não é sequer uma "arma". Escolher entre cinza claro ou cinza escuro não parece uma boa forma de mudar. É preciso encontrar outros tons e outras cores na política, que se faz não em palanques, mas sim no dia-a-dia, organizando e fortalecendo assembleias de bairro, conselhos populares, grêmios estudantis, centros e diretórios acadêmicos, sindicatos, e desenvolvendo formas de propagar as ideias de justiça, igualdade e liberdade. 

Se votar mudasse algo, seria proibido.
Não vote, organize-se e lute!

Nenhum comentário:

Postar um comentário