O
autoritarismo sempre foi um dos principais inimigos dos anarquistas, crendo
estes últimos que, a sociedade pode se organizar de forma horizontal,
sustentados sob a pedra angular do apoio-mutuo, cooperativismo e da autogestão.
Em uma das mais sangrentas histórias dos levantes antifascistas, está a Guerra
Civil Espanhola, onde a CNT (Confederación Nacional del Trabajo),
anarcossindicalista, combateu com armas em punho o governo de Francisco Franco
em 1936, sofrendo várias baixas e, apesar da participação massiva dos operários
urbanos e do campesinato, foi vencida.
No
Brasil, em 1934, quando anarquistas e comunistas de diversas vertentes se
uniram para combater o integralismo (modelo político com fortes ligações com o
fascismo italiano e o nazismo alemão), formando a Frente Única Antifascista, a
vitória foi perceptível através do episódio conhecido como “A Revoada dos
Galinhas Verdes”, na Praça da Sé em São Paulo, quando em plena Praça, fascistas
e antifascistas travaram uma batalha em que ao seu fim, os integralistas
debandaram da luta. Edgar Rodrigues, historiador e militante anarquista
registrou em seu livro Um século de
história político-social em documentos - Vol I., os acontecimentos daquele 07 de Outubro de 1935:
“Narrando os acontecimentos do dia 7
Embora
já estejam no conhecimento de todos pelas notícias dos jornais diários que, mais
ou menos verídicas, refletem, entretanto, o aspecto geral do sucedido, vamos
descrever, sucintamente os acontecimentos de domingo.
Como
se sabe, os antifascistas de São Paulo, embora colocados em campos diversos nos
seus pontos de vista político, ideológico e filosófico, haviam anunciado, por
meio de boletins que foram profusamente distribuídos, uma demonstração pública
de repulsa ao integralismo, para a qual convidaram o povo a comparecer na Praça
da Sé, justamente à mesma hora que deveria realizar-se a concentração dos
“Camisas verdes”.
Efetivamente,
àquela hora as ruas centrais encheram-se de povo, que, vendo tomada a praça da
Sé pela cavalaria, não podendo, portanto, reunir-se para manifestar seus
sentimentos de aversão ao fascismo, foi-se aglomerando nas circunvizinhanças,
forçada a assistir o desfile dos “camisas verdes” que passavam arrogantemente,
com ares de desafio, pelas ruas do triângulo.
Quem
ouvisse os comentários e percebesse o nervosismo que se manifestava em todos os
que assistiam a essa demonstração de exibicionismo, fácil lhe seria calcular o
que ia suceder. As expressões de revolta, os ditos e chacotas que se ouviam
traduziam um estado de ânimo e disposição na massa popular que não deixava
dúvidas. Foi o que sucedeu.
- O aparecimento dos “Camisas Verdes” na Praça da Sé.
Os
jornais faltam à verdade afirmando, em suas notas de reportagem, que as moças
integralistas e as crianças que faziam parte da manifestação foram recebidas à
bala quando entraram na Praça da Sé.
Pudemos
observar que o povo não molestou as mulheres nem as crianças que se conservaram
na Praça, sem a menor novidade, até que, marchando arrogantemente, apareceram
as famosas “tropas de choque” da macaqueação fascista.
Estas
sim, quando apareceram na Praça, o povo, não podendo conter-se ante a insolente
exibição, recebeu-as à bala.
- Os Primeiros Tiros.
Outra
versão dos acontecimentos que também não reflete a verdade é na parte que se
refere à localização dos primeiros disparos. As buscas dadas pela polícia nos
prédios das imediações, conforme a nota das próprias autoridades, negam que os
antifascistas estivessem localizados nos prédios e atirassem das janelas.
É
uma desvirtuação dos acontecimentos propositadamente feita para justificar o
fracasso e a vergonha debandada dos “camisas verdes” durante o tiroteio.
Ao
ouvirem-se os primeiros tiros, que foi a primeira manifestação de desagrado
popular, não foi mais possível localizar os pontos de ataque.
Os
integralistas, que estavam armados, contra as disposições da leie da
Constituição que, nesse caso, só se aplica aos trabalhadores, dispostos a
continuar a afronta, continuaram no local e puxaram as armas para atacar os
populares.
Isso
irritou ainda mais os ânimos, seguindo-se uma verdadeira explosão.
- O tiroteio
Começou,
então o tiroteio. As balas sibilavam em todas as direções, vindas de todos os
pontos da Praça, das esquinas das ruas, das portas dos prédio, onde se
entrincheiravam grupos de pessoas armadas que atiravam contra os “camisas
verdes”.
Ouviram-se estrondos semelhantes ao das
granadas de mão e parece que, de fato, foram empregadas no combate, pois foram
encontrados estilhaços na Praça da Sé.
A
polícia, que fazia a guarda do local, e as praças de cavalaria, atiravam sem
rumo, tomando de surpresa os “camisas verdes”.
Aí
começou a debandada dos “camisas verdes”, que, descontrolados, mandando às
favas a voz de comando e a disciplina, sem mesmo se lembrarem que foram ali
para jurar fidelidade ao seu “chefe nacional”,
corriam abandonando as bandeiras da sigma e até os tambores de marcar
passo...
Os
automóveis fechados eram disputados e os “camisas verdes” começaram a ser
motivo de chacota e a tornarem-se indesejáveis.
O
tiroteio estendeu-se ao Largo de São Francisco, onde os integralistas se
lembraram de que haviam prometido beber o sangue dos “comunistas”.
Enquanto
isso, vários eram já os integralistas feridos e alguns mortos haviam tombado na
refrega.
Ante
a nova investida dos antifascistas a debandada foi geral. Grupos de “camisas
verdes” desciam as ladeiras Porto Geral, Ouvidor, Rua Líbero, procuravam refúgio
atrás dos automóveis e nas casas. Muitos foram os que arrancaram a camisa e
ficaram em camiseta de esporte, vendo-se, ao cair da tarde, e à noite, magotes
de rapazinhos cheios de medo, que vieram do interior pensando que vinham para
uma festa.
- Os Mortos
Entre
os mortos figuram os agentes da polícia Hernani de Oliveira e José M. Rodrigues
Bonfim; os integralistas Jaime Guimarães, Caetano Spinelli e consta que morreu
também o integralista Teciano Bessornia. Tombaram mortos também o guarda civil
Geraldo Cobra e o estudante antifascista Décio P. de Oliveira.
Houve
31 feridos gravemente, e uma centena de pessoas receberam contusões em virtude
das correrias e da confusão que se estabeleceu.”
Hoje,
07 de Outubro de 2013, após 78 anos do épico combate paulista contra as forças
integralistas, o povo se organiza em prol de uma educação de qualidade,
abrangendo a própria categoria docente, que ergue-se diante de um plano de
cargos e salários que aumenta mais ainda as contradições laborais dos
professores. Reconhecendo que tal necessidade é inerente a todos os outros
Estados, várias são as cidades que colaborarão com esta manifestação.
Podemos
acompanhar nas lutas grevistas dos companheiros do Rio de Janeiro a truculência
do Estado, que insiste em manter o status
quo e criminalizar qualquer movimento laboral ou social, característica
essa dos governos nazifascistas. Porém, uma nova forma de resistência surgiu
desde as manifestações de Junho: Os Black Bloc’s. Inspirados nas formas de
protestos por todo o globo, os BB’s têm conseguido cumprir com seus intentos: A
proteção da população nas manifestações e o combate contra o Estado, suas
forças repressivas e o capitalismo. Assim como a FUA (Frente Única
Antifascista), o grupo vem sendo criminalizado, apoiando-se nas proposições de
grupos que, ora creem que são governistas que querem causar o caos, ora
“minorias infiltradas” da direita que pretendem desestabilizar governos. É
preciso repetir: em sua maioria são anarquistas, porém, assim como a FUA,
contam com indivíduos de diversas ideologias e motivos para estarem no front.
A
revoada dos Galinhas Verdes de 1934 marcou não somente o declínio do
Integralismo no Brasil, mas também uma mostra de que a população não aceitará
calada modelos de gestão social que reprimem, massacram, humilham e matam
indivíduos. Acompanhamos o amadurecimento de nossos companheiros no Rio de
Janeiro, e hoje, professores juntamente com Black Bloc’s, poderão demonstrar o
mesmo que os camaradas de 34.
Estamos
no Brasil, na Grécia, na Turquia, no Egito, na Palestina, na Síria, no Uruguai,
e em todos os países onde os governos combatem o povo!
O
GEAPI – Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí declara total apoio não só ao
movimento grevista dos professores do Rio de Janeiro, que luta pela valorização
da profissão e por uma educação de melhor qualidade, mas também ao Black Bloc,
que vem se mostrando cada vez mais preparado para o luta contra as opressões do
Estado e o combate contra o Capitalismo!
“Seria pueril esperar que o Estado, salvaguarda das
altas classes, consentisse, restituindo à coletividade a liberdade de seu
ensino, em destruir, ele próprio, seu melhor instrumento de dominação”. –
Fernand Pelloutier
FASCISTAS NÃO PASSARÃO!
VIVA O PODER POPULAR!
VIVA A ANARQUIA!
O POVO VENCERÁ!
Fontes:
RODRIGUES,
Edgar. Um século de história
político-social em documentos - Vol I. Rio de Janeiro: Achiamé Editora,
2005.
CHAMBAT,
Grégory. Instruir para revoltar –
Fernand Pelloutier e a educação rumo a uma pedagogia de Ação Direta. São
Paulo: Editora Imaginário, 2006.
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