terça-feira, 11 de novembro de 2014

O poder “soviético” – Seu presente e seu futuro



Um grande número de pessoas, sobretudo de esquerda, tendem a considerar o poder "soviético" como um poder de Estado diferente dos outros, apresentando estas diferenças como melhores:
"O poder soviético dizem eles, é um poder operário e campesino e, como tal, possui um grande futuro pela frente..."

Não há afirmação mais absurda. O poder "soviético" não é um poder melhor nem pior que os outros. Atualmente, é também inseguro e absurdo como todo poder de Estado em geral. Diante de certas notícias, é até mais absurdo que os outros. Conseguindo uma dominação política total do país, se fez o proprietário indiscutível de seus recursos econômicos e, sem contentar-se com esta situação grosseiramente exploradora, sentiu nascer nele o sentimento enganoso de uma "perfeição" espiritual, um sentimento que procura desenvolver diante do povo trabalhador e revolucionário do país. Assim, quer se impor ao povo enganando como seu dono espiritual; nisto, é fiel à insolência ilimitada e irresponsável de todo poder de Estado. Não é um segredo para ninguém que esta suposta "perfeição" do regime não é outra que a de seu inspirador, o partido bolchevique-comunista.

Tudo isto é só mentira descarada, repugnante hipocrisia e imprudência criminal direcionada à classe operária, em nome das quais e graças à elas se fez a Grande Revolução Russa, agora castigada pelo poder em proveito dos privilegiados de seu partido e da minoria proletária que, sob a influência deste partido, acreditou que estava representada nos rótulos, apetitosas para os ignorantes, do Estado proletário e da ditadura do "proletariado". Minoria que se deixa sem dúvidas se arrastar pelas rédeas, por este partido, sem ter participação alguma nem ter o direito a ser informada com precisão sobre o que se preparou e se cumpriu de forma traidora atualmente e o que todavia se prepara hoje contra seus irmãos proletários que não querem ser um instrumento cego e mudo e os que não creem nas mentiras do partido de máscara proletária.

Não é de se estranhar, sem dúvida, se este comportamento do poder bolchevique a respeito dos trabalhadores pode mostrar-se diferente no domínio de sua educação "espiritual". Ponho como mostra a persistência da consciência revolucionária nos trabalhadores da URSS, causa de grande preocupação para o regime, e que o Partido Bolchevique quer substituir por uma consciência política fabricada segundo seu programa.

É esta a circunstância que explica que o poder bolchevique se encontra cada vez mais cheio de dificuldades e que quer estupidamente completar seu despotismo econômico e político por uma empresa espiritual sobre o povo trabalhador. Não faz falta dizer que esta situação atual do regime condiciona estreitamente seu futuro; futuro completamente incerto, por falta de um futuro favorável. 

Em efeito, a situação atual é visivelmente desfavorável para milhões de trabalhadores dos que se pode esperar, de um momento ou outro, insurreições e revoluções sangrentas contra a ordem bolchevique-comunista. É muito evidente que este espírito insurrecional revolucionário dos trabalhadores da URSS deve ser apoiado por todos os revolucionários de todas as partes. Não obstante, não fará falta que contrarrevolucionários e inimigos dos trabalhadores tirem proveito desta situação. Os trabalhadores e revolucionários devem pois ter por objetivo destruir a ordem atual insensata e irresponsável, instaurada a favor dos privilégios do membros do Partidos e de seus mercenários.

A loucura deste regime deve ser eliminada e substituída pelos princípios vitais dos trabalhadores explorados, tendo como base a solidariedade, a liberdade e a igualdade de opinião para todos eles e a cada um, em definitivo, para todos os que se preocupam de uma autêntica emancipação. É um problema que concerne a todos os revolucionários russos: Todos aqueles que se encontram exilados ou na URSS devem, ao meu ver, preocupar-se com isso em primeiro lugar, assim como todos os proletários e os intelectuais dispostos revolucionariamente; acrescentarei a isto todos os opositores e refugiados políticos do regime bolchevique, a condição de que isto seja por motivos verdadeiramente revolucionários.

Eis aqui como vejo o presente e o futuro do "poder soviético", assim como a atitude que devem adotar os revolucionários russos de todas as tendências a respeito dele. Revolucionários que não podem, a meu ver, traçarem o problema de forma diferente. Devem levar em conta que, para combater o poder bolchevique, há de ter em consideração os valores que utilizou e proclamou para apoderar-se do poder; valores que continuam por outro lado, defendendo mentirosamente.

Caso contrário a luta dos revolucionários se mostraria, se não contrarrevolucionária, inútil para a causa dos trabalhadores enganados, oprimidos e explorados pelos bolcheviques-comunistas, os trabalhadores aos que os revolucionários devem ajudar custe o que custar a libertar-se deste velho círculo vicioso de mentira e opressão.

(Nota de Alexandre Skirda: Este órgão foi reescrito por vários fugitivos anti-estalinistas e anti-trotskistas, que se retiraram do regime bolchevique tendo como base uma volta aos soviets livres de 1917 e as reivindicações dos insurrectos de Kronstadt em 1921. O principal entusiasta da revista era Gregorio Bessedovsky, ucraniano e ex- diplomata soviético deixando em meio a confusões a embaixada da URSS em Paris e dedicando-se a denunciar violentamente as infâmias do regime stalinista. Ver sua obra: Si, acuso! Paris, 1930. Nota do tradutor espanhol).

(Nestor Makhno. O poder "soviético" - seu presente e seu futuro. 1931. Publicado originalmente em Bor'ba (A Luta), Paris, n°19-20, 25 de Outubro de 1931, pp.2-3. Tradução para o espanhol realizada por Jordy Rey. Tradução para o português realizada pelo GEAPI - Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí).

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