quarta-feira, 29 de outubro de 2014

POR QUE TAMBÉM NÃO VOTEI EM NENHUM DOS CANDIDATOS NO SEGUNDO TURNO?


Por Bal, anarcopunk e membro do GEAPI-Teresina


Aécio Neves.

Candidato “playboyzão”, burguês milionário, que representa os interesses dos ricos, do capital privado nacional e internacional, do mercado financeiro, das multinacionais, do FMI, do Banco Mundial, das privatizações e do imperialismo norte-americano. Predileto da imprensa burguesa que manipula toda a opinião pública no Brasil, da classe média, dos grandes grupos empresariais do país, dos latifundiários, dos grileiros, dos agroindustriais (dos fazendeiros que cantam música sertaneja, dos artistas alienados das novelas globais e dos futebolistas milionários ou que não moram no país). Em tese, um retorno de FHC e toda a sua corja ao poder. Quem gostou de FHC iria adorá-lo (http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/10/32-capas-o-brasil-dos-anos-90-e-o-governo-fhc/).
Graças ao grande investimento de banqueiros, grandes industriais e, principalmente, de incansáveis esforços da imprensa burguesa como Rede Globo, Revista Veja, Folha de São Paulo, Estadão, etc., e dos institutos que são pagos pra fraudar pesquisas ele conseguiu ultrapassar a candidata pseudo-ambientalista Marina e chegar à disputa do segundo turno.

Candidato mais nocivo que ele, talvez apenas o pastor Everaldo, que além de fundamentalista, era neoliberal declarado e tinha como proposta, escancaradamente e sem “arrodeios” nenhum, a privatização de tudo, pra acabar com tudo o que é serviço público no país e dizimar de uma vez por todas com os pobres.

Além de desvios, Aécio aumenta a sua fortuna com o dinheiro do tráfico internacional de drogas através de seu aeroporto particular construído com dinheiro público durante o seu governo em Minas que foi apelidado por seus adversários de “Aécioporto”. Em contrapartida ele foi apresentado e desenhado pela mídia burguesa como o candidato da “mudança”, aquele que exatamente refletia os anseios dos indignados nas manifestações das “jornadas de junho”, como se a população tivesse ido pegar porrada da polícia na rua só pra colocar uma carniça dessa no poder, um parasita que nunca trabalhou na vida, que nunca soube o que é sentir fome, que não sabe nem quanto é que custa um pão ou uma passagem de ônibus.

Por mais que a mídia tente mascarar, essa eleição serviu pra deixar claro o estudo político-geográfico acerca do contraste social que existe entre as regiões do país. O norte subdesenvolvido refletiu nas urnas que a maioria dos pobres beneficiados com os programas sociais votariam massivamente na candidata do PT, e contrariamente, o sul industrializado e a grande maioria daqueles que residem no exterior votaria expressivamente no candidato Aécio. 

(http://acritica.uol.com.br/noticias/Dilma-Norte-Nordeste-Aecio-regioes_0_1237676229.html)

(http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/blog/eleicao-em-numeros/post/aecio-foi-o-mais-votado-no-exterior-com-7702-dilma-teve-2298-dos-votos.html)

Denúncias gravíssimas de bandidagens que estão diretamente relacionadas ao candidato:

1. O roubo de R$ 4,3 bilhões da saúde:

(http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/05/aecio-neves-sera-julgado-por-desvio-de-r43-bilhoes-da-saude-2.html)

2. O pagamento de US$ 269 milhões de dívidas da Rede Globo referente à compra da Light com dinheiro público desviado do Estado de Minas:

(A matéria do NovoJornal de MG foi tirada do ar, tinha como título "Governador de Minas, Aécio Neves, paga US$ 269 milhões de dívidas da Rede Globo de Televisão na compra da Light")

(http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/o_governo_mineiro_e_a_globo)

(http://www.jornali9.com/noticias/aecio-neves-pagou-us-269-milhoes-de-dividas-da-rede-globo-de-televisao)

3. Construção de aeroporto particular com dinheiro público que custou R$ 14 milhões e fica na fazenda de seu tio:

(http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/07/1488587-governo-de-minas-fez-aeroporto-em-terreno-de-tio-de-aecio.shtml)

(http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/governo-de-aecio-fez-aeroporto-particular-de-r-14-milhoes)

(http://noticias.r7.com/minas-gerais/governo-de-minas-pode-pagar-r-34-milhoes-por-terreno-de-tio-avo-de-aecio-26072014)

4. Aeroporto particular que é usado pra rota internacional de tráfico de drogas:

(http://www.jornali9.com/noticias/denuncia/aeroporto-de-aecio-neves-era-usado-para-rota-internacional-de-trafico-de-drogas)

(http://www.jornali9.com/noticias/denuncia/aecio-neves-e-um-narcotraficante-perigosissimo-denuncia-policial-de-minas)

É desnecessário perder tempo falando desse elemento, “mais sujo do que pau de galinheiro”, porém, o que mais me intriga nesse candidato eram dois argumentos que ele sempre usou pra enganar otário em sua campanha:

1. Aécio Neves conseguiu 92% de aprovação em seu governo de Minas Gerais.
- Como isso é possível se ele não consegue nem obter maioria dos votos nesse Estado?
- Como isso é possível se nenhum candidato até hoje teve tamanho índice de aprovação, nem mesmo aqueles que já conseguiram vencer no primeiro turno?
- Quem fez esse estudo ou pesquisa? 
- Por que a fonte nunca era citada? 
- Por que ninguém nunca questionava a fiabilidade dessa fonte, mesmo após a derrota no primeiro turno?

2. O Estado de Minas Gerais tinha a melhor educação fundamental do país.
- Como é isso possível para um governo que nem sequer paga o piso salarial para valorizar o docente?
- Como isso é possível se durante a sua gestão ele nunca fez concurso público para professor e sempre preenchia as vagas de serviços públicos sem concurso e com temporários não concursados?
- Por que ele não falava a respeito da educação no ensino médio, já que esse sim é que é de competência do Estado?
- Como pode um governo querer se promover através de uma suposta boa educação fundamental ao mesmo tempo em que negligencia o ensino médio?
- Quem fez esse estudo ou pesquisa?
- Por que a fonte nunca era citada?
- Por que ninguém nunca questionava a fiabilidade dessa fonte?

Por que não dar voto estratégico na Dilma?

1. Corrupção:
É perda de tempo falar sobre corrupção nos governos do PT, pois que a população tome conhecimento ou não quando acontece, isso é e sempre foi uma prática comum de todos os políticos por profissão e partidos que chegam ou chegarão ao poder, simplesmente porque o poder é inevitavelmente um mal que corrompe e corromperá sempre a qualquer um que chegar até ele, com o PT não poderia ser diferente, a diferença é que parece que eles ainda não aprenderam a roubar direito, muitas vezes são descobertos.

2. Partido capitalista reformista:
O PT é um partido que defende o capitalismo, como todos os outros também que veem as eleições como uma possibilidade de mudança não passam de reformadores do capital. Basta conhecer os seus “programas de governo” ou assistir as suas campanhas e aos debates políticos. Todos eles discutem apenas qual é a melhor forma da administrar o capitalismo, só discutem sobre e dentro da perspectiva do capitalismo, são todos reformistas.

3. Fim da oposição ao Estado, aparelhamento e inoperância de centrais sindicais, entidades estudantis e movimentos populares:
Com a vitória do PT, diminui a possibilidade de uma real mudança, não havendo ou enfraquecendo a oposição, os sindicatos e entidades se transformam, ou melhor, permanecerão como simples secretarias do governo, protelando as deflagrações de greves ou da possibilidade de uma verdadeira luta revolucionária contra o Estado. Em outras palavras, o peleguismo se prolifera livremente dentro dos movimentos populares.

4. Domando a classe trabalhadora:
Os programas assistencialistas que dão migalhas aos pobres dão uma leve sensação de diminuição da desigualdade social e impedem que muitos pobres se submetam às condições mais desumanas e humilhantes de trabalho, mas por outro lado, os trabalhadores se tornam acomodados, desinteressados da luta por mudanças, pois os paliativos maquiam a crise do capital e funcionam como uma anestesia para o seu sofrimento diário. Não foi a toa que Roma conseguiu prorrogar a sua destruição através da velha política do pão e circo.
O Brasil é um barril de pólvora prestes a explodir, se caso algum governo, de repente acabasse com o bolsa esmola, o país se tornaria um Haiti. Os trabalhadores sempre estiveram cansados da exploração de seu trabalho, mas não sabem de quem é a culpa ou contra quem reagir, ou simplesmente se revoltam uns contra os outros, causando o constante aumento da violência no país, pois desde as primeiras décadas do século passado que não possuem mais consciência de classe para poder canalizar a sua revolta contra a classe dominante.

5. Dilma é uma pelega: 
Quem é a candidata Dilma? Uma ex-guerrilheira, ex-revolucionária, uma pessoa que no passado arriscou a própria vida lutando contra as injustiças da ditadura militar, que por isso foi presa, torturada e humilhada. Atualmente é uma capitalista, vendida ao atual sistema, que faz aliança política com grandes empresários e que renega a todo o seu passado de luta, que envia a mesma polícia que a torturou para prender e reprimir violentamente as greves e manifestações que ela participava na sua época de militante. Resumindo, hoje, uma pelega de carteirinha. Apoiar a candidata que diz ficar em cima do muro, que diz querer conversar com todos os setores da sociedade, que prega a conciliação de classes é ignorar o caráter classista que a luta libertária sempre deve ter.

6. O PT não é de esquerda: 
Votar no PT sob o argumento de que está votando na esquerda é apenas uma falácia ou mesmo ingenuidade. O PT faz alianças e governa com a direita e com toda a mais nojenta e parasitária classe empresarial do país. Começando com os vices que eles sempre escolhem e com aqueles que ocupam os seus ministérios, a lista passa por bandidos históricos de oligarquias tradicionais como Sarney, Calheiros, Gomes, Campos, Barbalho, Collor, Maluf, etc., nem preciso fazer uma lista disso. Para se eleger, a campanha do partido só é possível com o financiamento de banqueiros e de grandes grupos empresariais, sem o qual seria impossível chegar aonde chegou. 

7. Eleições atrasam a consciência revolucionária: 
Apesar de um sensível aumento do número de abstenções de 19% para 21% no segundo turno, a diminuição da porcentagem de votos nulos no segundo turno pode ser julgada como um forte indício disso. Os 10% do primeiro turno caíram drasticamente para 6% no segundo, quando o óbvio seria esse número aumentar a partir do momento em que as opções são reduzidas. Isso me leva a concluir que muitos daqueles que declararam não votar em nenhum dos candidatos, fraquejaram na hora de meter o dedo na urna quando ficaram sozinhos com ela (http://www.f5news.com.br/noticia.asp?ContId=247361). 
Muitos declararam o que chamaram de um “voto estratégico” em Dilma, por medo, para se evitar um retrocesso, um mal pior, que seria a vitória do burguês traficante Aécio Neves. Depois disso a luta libertária e antigovernista poderia continuar normalmente, só que de uma forma mais estruturada, com direitos assegurados, com um governo mais “sensível” a situação dos pobres, com menos sofrimento e repressão. Por esse “medo de uma desgraça maior”, alguns companheiros, até mesmo anarquistas (pasmem) chegaram a passar por uma crise existencial. Nessa hora, muitos militantes e companheiros “viram a casaca” ou são cooptados pela tentação de votar e de participar do processo eleitoral. 
No entanto, é absolutamente contraditório ser antiautoritário colocando alguém no poder, ser antigovernista elegendo governantes. As eleições burguesas devem ser sempre vistas como um atraso para todo o processo revolucionário. Sempre que há eleições burguesas, há uma tentativa de se manter o poder e toda a estrutura governamental da qual somos submetidos e da qual lutamos contra. Votar ou participar do processo eleitoral é legitimar todo esse sistema de abuso e dominação. Escolher o “menos pior” é votar para que tudo continue da maneira como está. Votar é votar pela manutenção do atual sistema político-social-econômico, não votar e propor a luta fora do sistema eleitoral é a melhor forma de se recusar a fazer parte de tudo isso. Seu voto é quem legitima esse sistema capitalista. Não votar, é, sobretudo, negar o sistema capitalista.

8. Conclusão:
Nesse suposto dilema, do qual é preciso escolher entre duas alternativas contraditórias, antagônicas ou insatisfatórias eu prefiro me apoiar em um velho provérbio judaico: “Quando só existem duas alternativas escolha a terceira”.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

[PHB] Desconstruindo e Reconstruindo o Anarquismo



O que pensamos quando ouvimos falar em "anarquismo", ou "anarquia"?
Durante a História e entre muitas sociedades os anarquismos ganharam uma conotação deturpada a partir dos séculos 19 e 20, por intermédio de meios comunicação sustentados por governos, empresas, militares, e igrejas.
Explorando a dualidade do significado que a palavra Anarquia (derivado do grego anarkhos,que significa sem governo) essas ferramentas que são um braço forte do Estado disseminaram interpretações equivocadas sobre os anarquismos, como se essa fosse uma condição caótica e tomada pela desordem e ausência de sentido nas interações humanas e consequentemente na sociedade, porém a contra prova para essas falsas acusações estavam na mesma época,com inúmeras organizações anarquistas de trabalhadorxs espalhadas por toda Europa e posteriormente America latina e outros lugares do planeta.
Anarquia em sua essência e propósito tem por objetivo construir a solidariedade, apoio mútuo e liberdade entre todxs...
Como é tratado o Anarquismo hoje?
O que mudou e o que permanece?
É possível e ainda necessário os Anarquismos?
Convidamos todxs vocês para continuarmos esse debate no dia 30 de Outubro.
Com a exibição do Documentário Da Servidão Moderna.
Será na sala de vídeo 2.
Na UFPI, Campus parnaíba.

Link do evento no facebook: clique aqui

[THE] Roda de diálogo - Cantos e contos da História: Anarcofeminismo, História e ações.


O GEAPI dá seguimento as atividades que vem se realizando na Biblioteca libertária, e convida tod@s para o evento: Roda de diálogo - Cantos e contos da História: Anarcofeminismo, história e ações.
O evento busca apresentar o anarcofeminismo, corrente do anarquismo que reforça a inserção e participação da mulher na luta social e consequentemente sua autodeterminação. 
A atividade consistirá em três momentos: Uma apresentação do anarcofeminismo, seguido da exibição do documentário "Minha vida em cor de rosa", e após este, um debate aberto. 
Ocorrerá dia 24.10, sexta-feira, na Biblioteca Libertária (praça dos skatistas, Fundação Nacional do Humor), a partir das 14h.
Sejam muito bem vind@s!

link do evento no facebook: clique aqui

ANARQUISMO É LUTA!

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

[THE] Oficina de Fanzine


O Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí convida tod@s para a I Oficina de fanzines, a se realizar na Biblioteca Libertária (Praça dos skatistas, Fundação Nacional do Humor), no dia 31.10.14, a partir das 14:00h. 

O evento é totalmente gratuito e aberto para quem queira aprender um pouco mais sobre a temática, assim como conhecer o espaço.

link do evento aqui

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Memória Proletária: À memória de Ferrer

Hoje se completa 105 anos do assassinato de Ferrer y Guardia pelo governo espanhol. O pai da Escola moderna e um dos principais representantes da pedagogia libertária ainda nos faz refletir e nos auxilia a construir o sonho de uma escola que trabalhe a autonomia e a coletividade de seus alunos, assim como o respeito mútuo, e principalmente, a construção de uma sociedade pautada na igualdade política, econômica e social. Ferrer y Guardia morreu, porém vive.
Divulgamos agora uma matéria  retirada do jornal "A Voz do Trabalhador", órgão de propaganda da Confederação Operária Brasileira, a COB, datado de 1909.
Aproveitamos o espaço e convidamos à tod@s para que participem do Colóquio Ferrer y Guardia Vive! - Reflexões sobre a pedagogia libertária, que será realizado no dia 22 de Outubro, no auditório da UESPI em Parnaíba.





O momento é ainda de protesto. O mundo inteiro protesta contra o bárbaro fuzilamento praticado na pessoa do grande mestre da nova ideia, o livre pensador Francisco Ferrer. 

Os sombrios fossos da Fortaleza de Monjuich recordem os tempos medievais, anteriores á queda da Bastilha. 

A descarga que fez tombar Ferrer repercutiu pelo universo inteiro, no intimo de cada peito, no seio de cada família, no meio de cada associação e no amago de cada país. 
Não ha homem de bom senso, ou livre pensador, que não sinta no intimo d’alma e dor pungentíssima que sufoca o puro sentimento, para só levantar um grito de revolta —porque todos pensamos livremente — porque podemos chegar a ser um Ferrer, um Gorki, um Gafoni, e os Stenka existem em todos os tempos. 

Os espíritos ferrenhos arraigados ao ortodoxismo do Sistema, no pessimismo conservador de tradições, entrincheirados no estulto baluarte da burocracia, arrogando-se os direitos de conquista, pretendem ainda a direção dos povos na trilha intolerável do mais absoluto despotismo, na mais concreta ignorância. 

Mas já passaram os tempos do obscurantismo, já lá se vão os tempos em que a venda era uma condição necessária á vida da humanidade.

Ferrer tombou, Ferrer deixou de existir, mas na matéria apenas; os Ferrer existem em todos os tempos e, cada Ferrer que tomba, e um passo de gigante dado no vasto campo dos nossos ideais. Cada Ferrer que tomba é uma pedra gigantesca atirada no alicerce do vasto edifício do Socialismo; cada Ferrer que tomba, é urna luz que se projeta altaneira, pairando por sobre a humanidade. Luz intensa que muitas centenas de lâmpadas voltaicas, em foco, jamais produziram luz de tão suaves reverberações. 

Lamentemos a morte de Ferrer, mas não nos deixemos empolgar pela dor estiolante das nossas mais santas e puras aspirações; pois que a morte de Ferrer, ao mesmo tempo que nos é uma grande falta, pois que Ferrer era um dos mais fortes esteios da nossa nobre causa, é ao mesmo tempo um grande bem, pois que a morte de um dos procetes da liberdade, em pleno campo de luta, é para nós uma vitória; o seu sangue fará germinar a ida, a luz que lhe alimentava o cérebro espalhar-se-á, comunicar-se-á as massas ávidas de saber e sedentas de luz, atestando assim a grandiosidade da ida e do cérebro que a gerou. 

Se morre um Ferrer entrega-se o corpo á terra, cujos vermes se encarregarão de consumir a matéria, mas não conseguiremos fazer com que a ida acompanhe a matéria na sua queda e decomposição; ainda que assim fosse: a ideia persistiria até chegar o tempo próprio para germinar, porque a ideia é luz e os vermes não comem luz, e como tal não conseguiriam consumi-la: assim a memoria de Francisco Ferrer conservar-se-á indelével no amago de nossos corações. Ferrer será para as gerações vindouras o que para nós tem sido os sábios e filósofos como Galileu, que descobriu o movimento da terra em torno do seu eixo; o Cristo, sublime filósofo da antiguidade, Platão, na sua escola, e Pitágoras, na sua teoria da alma, transcendente após uma correria de mais de três mil anos. Para depois formar o delicado maquinismo de que irradiam as mais suaves reverberações, grau supremo da organização dos seres – o homem.

Ferrer passará, pois, á posteridade como figura brilhante, destacando-se grandioso no escól sublime dos homens de talento, como o apanágio eterno de sua obra grandiosa. Levantemos, pois, um grito de revolta contra a morte daquele que só soube criar escolas.

Elevemos a voz proclamando bem alto a memoria daquele que só procurou instruir a infância – o criador da Escola Moderna – Francisco Ferrer.

Rio, 23 de Outubro de 1909.
A. Galileu.

Fonte: GALILEU, A. Á memória de Ferrer. A Voz do Trabalhador. Rio de Janeiro: Ano II - n° 20, 15 de Novembro de 1909.

Download do texto original <aqui>

sábado, 11 de outubro de 2014

Colóquio "Ferrer i Guardia vive! Reflexões sobre a pedagogia libertária"


Em 13 de Outubro de 1909 a vida de um homem foi tirada pelas balas dos fuzis do governo da Espanha, acusado de engendrar uma insurreição. Seu nome era Francesc Ferrer i Guardia, um dos idealizadores da pedagogia libertária e fundador da Escola Moderna.

Visando o aprofundamento e problematização de suas ideias, assim como relembrar a morte do pedagogo libertário, o Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí juntamente com o Centro Acadêmico de História e a Coordenação do curso de História convidam tod@s para o Colóquio "Ferrer y Guardia Vive! - Reflexões sobre a Pedagogia Libertária", que será realizado no dia 22 de Outubro, no auditório da UESPI de Parnaíba, quarta-feira, a partir das 18:00.

Em um primeiro momento, será apresentada a vida e obra de Ferrer y Guardia, e após isso, exibiremos o documentário "A educação proibida", seguido de debate. O evento certificará 4h.

Ferrer i Guardia foi assassinado, mas suas ideias não.

VIVA A ESCOLA MODERNA!
VIVA A PEDAGOGIA LIBERTÁRIA!
FERRER I GUARDIA VIVE!


Evento no facebook <aqui>
Perfil do CAHIS Mandu Ladino <aqui>

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A Revolução triunfará em Kobanê! (DAF - Ação Revolucionária Anarquista)


O DAF - Devrimci Anarşist Faaliyet (Ação Revolucionária Anarquista) publicou em 8 de outubro um comunicado sobre a situação de Kobanê, e a luta revolucionária curda contra o Estado Islâmico (ISIS), a qual traduzimos a partir do site Bitácora Anarquista, do Peru. Esperamos ajudar dentro de nossas possibilidades os companheiros e companheiras que lutam contra o ISIS no Oriente Médio, de forma a reforçar o chamado internacionalista para que acompanhem e apoiem a resistência do DAF e do povo de Rojava e Kobanê.

É o 24° dia dos ataques do ISIS em Kobanê. Enquanto as forças de defesa popular em todos os povos da fronteira estão fazendo um escudo humano para salvar Kobanê dos ataques, todo o mundo, em todas partes da região que vivemos, se levantam para que Kobanê não caia.

Estamos fazendo um escudo humano há três semanas em Boyde, aldeia ao oeste de Kobanê. Os últimos dois dias, as explosões e sons dos enfrentamentos foram intensos nos distritos exteriores de Kobané e no centro da cidade. Durante este período de intensos enfrentamentos, as forças militares aumentaram seus ataques contra os sentinelas que fazem um escudo humano nos povoados fronteiriços. Soldados do Estado Turco estão atacando com bombas de gás lacrimogêneo aos que cercam a fronteira de ambos os lados, incluindo o povoado onde nos encontramos, que foi atacado na terça. Os soldados também utilizaram munições reais de vez em quando em seus ataques e feriram pessoas.

Estes ataques contra aldeias fronteiriças significam especialmente que as forças do ISIS tem entrada permitida através da fronteira. O apoio da República da Turquia ao ISIS é claramente visível aqui, tal como é lá. Obviamente não é a  única coisa que é clara. Aprendemos que um dos líderes do ISIS que comandou o ataque a Kobanê foi assassinado pelas forças YPJ/YPG. entretanto, os choques hoje em dia são tão intensos como antes e continuaram durante todo o dia. Os sons dos enfrentamentos quase nunca pararam. Sem dúvida, agora sabemos que as explosões são feitas pelas forças YPJ / YPG. É informado que as forças YPJ/YPG esvaziaram taticamente as ruas de Kobanê no centro da cidade e emboscaram o ISIS, neutralizando-os com táticas exitosas.

Todo mundo está entusiasmado com o que se diz nas reuniões do povoado; uma delas é o medo que o ISIS tem das mulheres guerrilheiras. O ISIS representa o Estado, o terror, o massacre, e também o patriarcado, é claro. Devido a sua crença que não podem ser "mártires" quando são mortos por uma guerrilheira, uma lutadora do YPJ, tem medo de encontrar-se com as forças do YPJ. Porque quando as encontram, as mulheres que "lutam" contra eles não mostram piedade com o ISIS, Esta é a liberdade criada contra o patriarcado das combatentes do YPJ.

A revolta que nos últimos 2 dias se difundiu em todo o Curdistão e em todas as cidades da Anatólia, nos faz perceber quanto o povo organizado pode ser invencível. Estas revoltas criam confiança na possibilidade revolucionária em Kobanê, nas aldeias de fronteira e em toda a Rojava. Quando uma irmã ou um irmão caem na batalha, a raiva e a força logo tomam o lugar da dor. Aos réquiens de joelhos seguem as danças helays nas quais o bater dos pés é tão forte e veloz que pode quebrar a terra. Assim a nossa dor explode em raiva, cada vez mais forte, cada vez mais veloz.

Isso é o que precisamos aqui. Em nome da liberdade e da revolução tão almejada, apesar de tudo.


Viva a Resistência Popular de Kobanê!

Viva a Revolução Popular de Rojava!

Viva nossa Ação Revolucionária Anarquista!


Aconselhamos aos que possuem facebook que acompanhem o conflito pelas páginas:


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Por que o mundo está ignorando os curdos revolucionários na Síria?



Em meio a zona de guerra síria um experimento democrático está sendo derrubado pelo ISIS. Que o resto do mundo não se dá conta disso é um absurdo.

David Graeber.

Em 1937 meu pai se ofereceu como voluntário para lutar nas Brigadas Internacionais em defesa da República espanhola. Um possível golpe fascista havia sido detido temporariamente pela sublevação dos trabalhadores, encabeçada pelos anarquistas e socialistas, e em grande parte da Espanha uma autêntica revolução social se produziu, o que levou a cidades inteiras em autogestão democrática, indústrias sob o controle dos trabalhadores, e o fortalecimento radical das mulheres.

Os revolucionários espanhóis esperavam criar uma visão de uma sociedade livre que todo o mundo pudesse seguir. Em troca, as potencias mundiais declararam uma política de "não intervenção" e mantiveram um bloqueio rigoroso da república, inclusive depois que Hitler e Mussolini, signatários ostensivos, começaram a mandar tropas e armas para reforçar o lado fascista. O resultado foram anos de guerra civil que terminou com a derrota da revolução e alguns dos massacres mais sangrentas de um século sangrento.

Eu nunca pensei que veria, em minha própria vida, ocorrer a mesma coisa. Obviamente, nenhum acontecimento histórico sucede realmente duas vezes. Há mil diferenças entre o que ocorreu na Espanha em 1936 e que está acontecendo em Rojava, as três províncias curdas em grande parte do norte da Síria, hoje. Mas algumas das semelhanças são tão surpreendentes, e tão angustiantes, que sinto que me incumbe, como alguém que cresceu em uma família cuja política eram em muitos aspectos definida pela revolução espanhola, dizer: Não podemos deixar que termine da mesma maneira outra vez.
A região autônoma de Rojava, tal como existe hoje em dia, é um dos poucos pontos brilhantes - na realidade um muito brilhante - que emergiram da tragédia da revolução síria. Depois de haver expulsado os agentes do regime de Assad em 2011, e apesar da hostilidade de quase todos seus vizinhos, Rojava não só mantém sua independência, mas é um notável experimento democrático. As assembleias populares foram criadas como os órgãos de tomadas de decisão em última instância, os conselhos são selecionados com um cuidadoso equilíbrio étnico (em cada município, por exemplo, os três altos oficiais tem que incluir um curdo, um árabe e outro cristão sírio ou armênio, e ao menos um dos três tem que ser uma mulher), existem conselhos juvenis e de mulheres e, em um notável eco da organização armada Mujeres Libres da Espanha, um exército feminista, a mítica "YJA Estrela" (a "União de Mulheres Livres", a estrela faz referência à antiga deusa da mesopotâmia Ishtar), que levou a cabo uma grande parte das operações de combate contra as forças do Estado Islâmico.

Como pode ocorrer algo assim e, todavia ser quase totalmente ignorado pela comunidade internacional, incluindo, em grande parte, pela esquerda internacional? Principalmente, ao parecer, devido a que o partido revolucionário de Rojava, o PYD, trabalha em aliança com os Trabalhadores curdos da Turquia (PKK), um movimento guerrilheiro marxista que desde os anos de 1970 esteve envolvido com uma grande guerra contra o Estado turco. A OTAN, os EUA, e a União Europeia o classificam oficialmente como uma organização "terrorista". Enquanto isso, os esquerdistas em grande maioria os descrevem como stalinistas.

Mas na realidade, o próprio PKK já não é nada remotamente parecido com o velho partido leninista vertical que uma vez foi. Sua própria evolução interna, e a conservação intelectual do seu fundados, Abdullah Ocalan, que esteve em uma prisão em uma ilha turca desde 1999, o levou a trocar por completo seus objetivos e táticas.

O PKK declarou que já nem sequer trata de criar um estado curdo. Em seu lugar, inspirado em parte pela visão do ecólogo e anarquista Murray Bookchin, adotaram a visão de "municipalismo libertário", chamando os curdos a criarem comunidades livres, autônomas, baseadas nos princípios da democracia direta. que logo se uniriam através de fronteiras nacionais - as quais se espera que se tornem progressivamente insignificantes. Desta forma, propuseram, a luta curda poderia se converter em um modelo para um movimento mundial até uma autêntica democracia, economia cooperativa, e a dissolução gradual da nação-estado burocrática.
Desde 2005, o PKK, inspirado na estratégia dos rebeldes zapatistas em Chiapas, declarou um alto ao fogo unilateral com o Estado turco e começou a concentrar seus esforços no desenvolvimento de estruturas democráticas e os territórios que já controlavam. Alguns questionam o quão isso é sério na realidade. Claramente permanecem elementos autoritários. Mas o que se sucedeu em Rojava, onde a revolução síria deu aos radicais curdos a oportunidade de levar a cabo tais experimentos em um grande território, ao lado, sugere que isto é qualquer coisa menos uma fachada. Conselhos, assembleias e milícias populares se formam, a propriedade do regime foi entregue às cooperativas administradas pelos trabalhadores - e tudo isso apesar dos contínuos ataques por parte das forças de extrema direita do ISIS. Os resultados cumprem com qualquer definição de uma revolução social. No Oriente Médio, pelo menos, estes esforços se fazem notar: Sobretudo depois que as forças do PKK e Rojava interviram para abrir-se exitosamente um caminho através do território do ISIS no Iraque para resgatar os milhares de refugiados yezidis presos no Monte Sinjar depois que os peshmerga locais fugiram do campo. Estas ações foram amplamente celebradas na região, mas notavelmente quase não chamou a atenção da imprensa europeia e estadunidense.

Agora, o ISIS voltou, com dezenas de tanques de fabricação estadunidense e artilharia pesada tomadas das forças iraquianas, para se vingarem contra muitas dessas mesmas milícias revolucionárias em Kobané, declarando sua intenção de massacrar e escravizar - sim, literalmente escravizar - toda a população civil. Enquanto isso, o exército turco está na fronteira evitando que reforços ou munições cheguem aos defensores, e os aviões norte-americanos passam por cima zombando, lançando alguns ocasionais, simbólicos e diminutos bombardeios - ao parecer, só para poder dizer que não é certo que não fizeram naca como um grupo que diz estar em guerra com os defensores de um dos grandes experimentos democráticos do mundo.

Se há um paralelo hoje com os superficiais devotos, falangistas assassinos de Franco, quem seriam senão ISIS? Se há um paralelo com as Mujeres Libres da Espanha, quem poderiam ser senão as mulheres valentes que defendem as barricadas em Kobané? O mundo - e mais escandalosamente, a esquerda internacional - será realmente cúmplice de deixar que a história se repita?



Tradução de: http://zip.net/brpPyy
Acompanhe pelo facebook a resistência curda pela página Anarchists in Support of Rojava-Kurdistanhttp://zip.net/bmpN7Y

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Em tempos de eleições, um convite à anarquia



A primeira indicação que dou é que os que observarem este link, que leiam. A palavra “anarquia” carrega consigo amargos significados que passam longe de ser o que é em realidade. O texto pode trazer, suponho eu, uma reflexão interessante à tod@s.

A descrença com o sistema eleitoral é visível. Uns, já o condenaram em sua totalidade, outros, lutam para se segurar nele elegendo “o menos pior”, ou “o que rouba, mas faz”; há ainda os que acreditam que com a escolha de um partido de “esquerda”, será possível uma modificação radical da sociedade. Acredito na sinceridade de cada um deles, e tento agora apresentar uma outra via, uma outra possibilidade que suponho poder dar outra perspectiva de todo o jogo de cartas marcadas que chamam de “eleições”.

A primeira pergunta que faço é: Qual o motivo de votarmos? Creio particularmente que esse movimento involuntário acontece devido ao slogan de que só existe política através do voto. Não é bem assim. Fazemos política de todas as formas possíveis, desde as decisões mais simples até as mais elaboradas. Este texto, aliás, é um texto político, pois emite uma opinião, uma ideia que busca ser reproduzida na realidade. Somos todos políticos! Não políticos profissionais, que vivem de palanques, bancadas, discursos vagos, etc., Somos políticos pois vivemos em sociedade, que exige nossa interação, nossa participação, e declaramos por isso que existe política além do voto! Querem reduzir a participação popular neste gigante teatro a uma mísera sequência de digitações de números.

Podemos citar infinitos casos onde a política que defendemos foi exercida em pequena, média e longa escala. Desde as assembleias estudantis, a casos onde toda uma população se juntou para fazer o encanamento de esgoto que a prefeitura negou realizar, assim como em Chiapas, onde o povo governa sem terem governantes, e se submete sem serem governados, através dos caracoles nos agrupamentos do Ejercito Zapatista de Liberación Nacional.

A lenda de que precisamos de governos, ou de governantes é uma mentira, uma farsa. Temos o potencial de decidir e fazer por nós mesmos.

A segunda pergunta que fazemos é: “Votar nulo” ou “não votar” muda algo? Em minha opinião, virtualmente sim; demonstra uma insatisfação com as metodologias de escolha de governantes, ou mesmo põe em xeque a necessidade de governantes; pode também indicar que nenhum dos que se colocaram a “disposição” representam os interesses de determinado indivíduo – o que automaticamente mostra a desigualdade deste sistema que privilegia uns, e exclui outros –. Mas isso só não basta. Na realidade, chega a ser ínfimo este “protesto”.

A propaganda anarquista sobre as eleições carrega consigo uma face destrutiva, e outra construtiva: Respectivamente, a primeira é inerente a campanha do não voto ou do voto nulo. Mas é preciso de uma resposta, uma consequência a este ato. Diante disso, surge a proposta de autogoverno: Criação de assembleias de bairro, fortalecimento de grêmios estudantis, centros acadêmicos, sindicatos, onde aqueles indivíduos que compõem aquele grupo possam opinar e modificar a realidade juntos.

Indicamos não votar ou votar nulo para “destruir” esta máquina de desigualdades em massa, e “construir” uma nova possibilidade de organização e política. É importantíssimo negar isto que nos oferecem como política através do voto nulo, ou mesmo não indo votar, mas o que queremos não acaba aí; na verdade, é apenas o começo do que pretendemos de verdade.

Nestes tempos de campanha eleitoral, entre o barulho dos carros de som, das bandeirinhas, dos santinhos distribuídos, dos comícios e debates infrutíferos onde se fala muito e não se faz nada, fazemos um convite sincero à reflexão e à ação; não ao “voto nulo” ou o “não voto” de forma vaga e sem efeitos; fazemos um convite à anarquia, a luta por um método organizativo onde tod@s decidam a melhor forma de resolver os próprios problemas, e façam a mudança que desejam por si mesmos, em coletividade, assim como não permitir que um ser humano viva do suor de outro ser humano.

NÃO VOTE, ORGANIZE-SE E LUTE!
O POVO VENCERÁ!

- Edgar Rodrigues, GEAPI.